Nesta semana, o antropólogo e historiador Juliano Spyer, autor de ‘Crentes’ (Record) e ‘Povo de Deus’ (Geração), escreveu um artigo na Folha de São Paulo com o sugestivo título: “Ateus e agnósticos, sinto dizer, mas a religião está de volta.” Ele afirma que, aparentemente, o secularismo não ofereceu nada que substitua satisfatoriamente a espiritualidade.
Com argumentos precisos desconstrói a ideia de que o avanço da educação levaria à secularização da sociedade. Ele demonstra que religião e espiritualidade estão de novo na moda no Brasil, já que “se as pessoas que declaram não ter religião no Brasil constituíssem uma igreja, ela seria segunda maior do país, mas apenas uma fração delas se considera ateia ou agnóstica.” Ser sem religião não significa que a pessoa desprezou o conceito de sagrado e transcendência, mas apenas que não frequenta a comunidade de fé regularmente, mas a maioria acredita no sobrenatural e na continuidade da vida após a morte física.
A explicação simplista de que o crescimento da igreja evangélica estava associado à pobreza também perdeu seu poder de força, afinal, como explicar o surgimento de igrejas voltada para a elite brasileira e a classe artística? Alguns argumentam que a expansão evangélica nas camadas médias e altas pode estar relacionada à polarização e a guinada conservadora da sociedade. As pessoas se afastaram das religiões institucionalmente, mas procuram alternativas para cultivar sua espiritualidade, simplesmente porque não apareceu nada que substitua a vivência religiosa satisfatoriamente.
Em Marx, “a religião é suspiro da criatura oprimida, desaparecendo a opressão, a religião inevitavelmente desaparece”. Tudo parecia indicar que a religião teria seus últimos dias. O homem aprendeu a lidar com todas as questões de importância sem recorrer a Deus, mas a história parece zombar das previsões científicas. “Quando tudo parecia anunciar os funerais de Deus e o fim da religião, o mundo foi invadido por uma infinidade de novos deuses e demônios, e um novo fervor religioso, que totalmente desconhecíamos, tanto pela sua intensidade quanto pela variedade de suas formas, encheu os espaços profanos do mundo que se proclamava secularizado – ateus têm seus santos; blasfemos constroem templos.” (Ruben Alves)
Para Spyer, por trás dessa guinada está a percepção de que a espiritualidade melhora a qualidade de vida, incluindo formas de lidar com o inexplicável e misterioso, dá senso de pertencimento e estabelece regras para a vida. “A crença ajuda a responder perguntas existenciais como “o que faço aqui?” ou “por que estou atravessando essa dificuldade?” O pertencimento se materializa em redes de solidariedade que, além de afeto, ajudam a resolver problemas. As regras, por sua vez, servem como guia para orientar decisões em um mundo acelerado. Agora, ateus e agnósticos terão de responder mais do que apenas argumentos para conquistar novas audiências.” (Juliano Spyer)
É a nova espiritualidade brotando das cinzas. Fênix. Uma nova compreensão e cosmovisão tentando se encaixar num mundo polarizado, tecnológico, místico e pós-moderno. É a conspiração dos deuses.
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